Qual o contexto?

Os estudos sobre escassez da água necessitam integrar as dimensões ambientais, sociais e políticas. Desta forma, seria possivel ampliar a compreensão do papel das relações de poder sobre a forma de transformação da natureza. Partimos da conceituação de que “projetos hidrossociais” se refere a propostas materializadas ou idealizadas por diferentes grupos de atores que promovem a transformação territorial dos fluxos de água e redefinem papéis e relações hierárquicas de poder entre os atores do território. Nesse contexto, foi realizado um estudo de caso em Laguna del Cisne (Canelones, Uruguai), no qual o processo de construção social de duas crises hídricas associadas à noção de escassez de água (tanto em qualidade quanto em quantidade) e sua relação com projetos hidrossociais que divergem entre si.

Qual o objetivo?

Este artigo se propôs a analisar o processo de problematização da água e as crises hídricas na bacia da Laguna del Cisne, focando a disputa entre diferentes projetos hidrossociais materializados e não materializados, bem como as estratégias utilizadas por diferentes grupos de atores para manter relações hierárquicas e, consequentemente, de poder sobre a água e o território.

Quais foram os resultados obtidos?

Os resultados indicam que, em contextos de crise, o processo decisório é centralizado nas instituições do Estado em nível nacional, através de escalas estrategicamente articuladas, a fim de atender aos interesses de determinados grupos de atores, apesar da existência de espaços participativos consultivos, como as comissões de bacia. Foram empregadas diferentes estratégias escalares pelos diferentes atores (top-down e bottom-up) para promover diferentes propostas no território. No entanto, de forma similar às descobertas em outros estudos, constatou-se que aquelas propostas que recebem apoio político e financeiro apresentam maior poder e possibilidade de materialização.